domingo, 9 de novembro de 2008

Rotina


Acordar, espreguiçar, levantar, tomar banho, fazer a barba, café da manhã, escovar os dentes, tirar o carro da garagem, passar pelas mesmas ruas, em 500 metros ver e cumprimentar as mesmas pessoas, trabalhar, voltar para casa, jantar, ficar com a família, conversar sobre o dia, dormir e recomeçar tudo no dia seguinte. Cansa, desmotiva e te deixa um pouco limitado sobre os seus potenciais e virtudes mal exploradas pela rotina. Rotina que você usa como meio de conseguir o seu sustento e mantê-lo em pé e atuante na vida. No meio dessa rotina você vê e revê diariamente pessoas, vizinhos, açougueiro, padeiro, farmaceutico, comerciantes e pessoas anônimas que você sequer sabe o que faz ou o nome, mas pelo hábito acena e sorri cordialemnte. Sempre me queixei de rotinas e procurei de uma forma ou outra dribá-las para ter um pouco mais de colorido no dia a dia. Uma dessas pessoas era o policial militar Ailton Lamas, que via diariamente no meu percurso de ida e volta para casa, seja fardado como policial ou uniformizado como atendente da farmácia do bairro, ele inclusive foi o responsável pelo furo na orelha do meu filho quando o Grê resolveu colocar um brinco. Na sua rotina de policial era conhecido como o "rei do parto" e se orgulhava disso, trouxe à luz cerca de 14 crianças, tinha duas filhas e era muito querido. Na sua rotina de policial, nessa última sexta-feira foi atender uma ocorrência, trocou tiros com bandidos e foi o único policial morto no confronto que foi notícia no Brasil inteiro. Dessa vez não foi ajudar a trazer a vida e sim para tirar a sua. Ironia do destino para quem estava ligado à vida e completava no dia 22 anos de serviços à sociedade. Definitivamente minha rotina mudou em função do destino e confesso que não gostei nenhum um pouco. Lamas descanse em paz.